Textos
Estado de espírito
Que importa a casa por varrer?
O pó se acumulando na mobília,
A louça do almoço na pia...
Vamos sair, amor?
Que importa a ata por fazer?
O relatório,
O sofrimento da alma e do corpo
Por coisas vãs.
Vamos sair, amor?
Vamos ver a vida,
por favor?
O céu continua azul – como sempre, azul.
O mar revolto
onde quer que ele esteja
canta nas pedras imóveis,
indiferentes,
a sua canção de poder e força.
Somos seres pequenos, meu amor.
Presos ao relógio,
senhor absoluto das horas.
Do tempo dos ricos,
dos poderosos,
dos operários...
(Apenas os vagabundos,
os incautos,
os insensatos
e os felizes
não sucumbem a esse poder.)
Estamos presos ao relógio
como cães acorrentados
sujeitos às intempéries:
_ num momento não suportamos o calor
no instante seguinte tilintamos de frio...
Se não acreditasse numa razão maior, querida,
morreria hoje.
Que importa a casa mais bonita?
O carro novo?
Esse ufanar constante
e inútil?
Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 25/10/2011