Textos
Os dois Josés
Conheço o primeiro José,
O da Silva, o da Cida.
Sua coragem, sua fé.
Sua camisa puída.
O seu copo de cachaça,
falso escape da desgraça.
Costumo vê-lo na lida,
O outro também conheço,
marido de Dona Santa.
De pomposo endereço,
do tipo Avenida Atlanta.
É parrudo, bem nutrido.
Dos maiorais do partido,
no cenário se agiganta.
Zé da Silva, pobrezinho,
guaritadolá no morro,
dividindo com o vizinho
um pedido de socorro.
Sete filhos, Deus acuda!
A Cida outra vez buchuda
Eta vida de cachorro!
Zé Parrudo é outro assunto.
Sempre fresco, barbeado,
no cabelo um besunto,
já eleito deputado.
Sempre de terno e gravata,
onde houver um magnata
O danado está lá junto
O outro é miséria só.
Tá sempre de alpercata,
roupa comprada em brechó,
vida cará com batata.
Insossa, vida de besta,
amarga segunda a sexta.
Fim de semana: jiló.
Dona Santa é bonita.
Bem limpinha e perfumada
Vai ao salão da Joanita,
manicure tarimbada
que alem de prestar serviço
arma tanto reboliço
que segredo sobra nada.
Cida é pobre, a sujeitinha.
A mulher do Zé Qualquer.
Um lenço na carapinha,
já sem viço de mulher,
não cultiva mais vaidade,
esquecer a mocidade
é coisa que ela quer.
Passa os anos, já agora
Doutor José (quem diria?)
não é mais o de outrora.
Tem na vida regalia.
Já é homem do Congresso
e a ele só tem acesso
quem passar por vistoria.
Zé da Silva continua
na luta desesperada.
A verdade nua e crua
é que já não crê em nada.
O chamam de proletário,
é minguado o seu salário.
_ Oh, Deus que sina danada!
Dona Santa foi pra Europa
fazer compras em Paris.
Deputado, ver a Copa.
(Pelo menos é o que diz.)
Tantos dias sem amor...
Ela gostou de Alaor
e ele conheceu Thaís.
Quando voltam,tudo bem.
Um do outro são de novo.
Não se fala pra ninguém,
não cai na língua do povo.
Pois quem tem bala na agulha
vira santo e vira pulha,
mas nunca um pinto no ovo.
Embolsando seus milhões
Doutor José vai seguir.
Um pontapé em seus culhões
ninguém há de desferir.
Com a opulência dos reis
seguirá fazendo leis
pro Zé da Silva cumprir.
A todos os Josés da Silva que são a verdadeira força desta nação.
Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 10/11/2011