Carlinhos Colé
Mais triste do que não saber ler, é saber e não querer
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Textos
Balaio de gatos
            O moleque Toniquinho se aproximou de Eleotero muito cheio de dedos. O matuto detestava indiretas e ninguém o aborrecia sem a devida punição:
            _ Sô Lotero. Hoje é aniversário de D. Mariinha, a minha catequista.
            _ Ah, é? Que bão uai. Cumprimenta ela lá por mim.
            _ Tá bão.
            O menino continuou ali de pé. Eleotério fingiu estar distraído observando uma gata parida deitada dentro de um balaio debaixo do banco de angico, amamentando uma ninhada de filhotes.
            _ Mas, Sô Lotero, é que queria dar a ela um presente.
            Menino abestado! Se tivesse pedido um trocado pra comprar uma lembrancinha pra beata ele teria dado, mas indiretas o aborreciam.
             _ Faz o seguinte moleque: toda mulher gosta muito de gatos. Leva aqueles filhotes de presente pra ela.
             Não é que o moleque gostou da idéia? Foi logo buscar um saco de aniagem. Encheu de gatos e poucos minutos depois saía para o seu compromisso religioso, cabelo penteado, caderno e lápis debaixo do braço e um saco de gatos irritados, rumo ao pequeno salão comunitário.
            Uma hora depois  estava Eleotério ainda no portão da casa do moleque parolando com seu pai, o Compadre Tonico, pitando um palheiro e discutindo a safra do milho. Entra o menino pisando duro, muito enfezado, carregando o saco de gatos ainda mais irritados:
            _ Sô Lotero, ela num gostô não. Viu?
Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 12/10/2013
Alterado em 13/10/2013
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