Que cuiada! (A solução é desratizar o Brasil)
“Enquanto forem permitidas campanhas eleitorais milionárias haverá corrupção no governo, pois alguém precisará pagar a conta da campanha, certo? Ninguém doa tanto dinheiro para uma campanha eleitoral à toa. Não existe tanto idealismo assim, neste mundo, ou a humanidade não padeceria de tantos males”
Augusto Branco
Enquanto espremo o cérebro na luta por escrever esta crônica Seu Lunga me observa calado, com seus olhos amarelos. Gordo e bigodudo o bicho é a própria personificação da indolência, nem parece o mesmo que minha filha salvou da enxurrada quando filhote. Ela o chama de Azagal, mas eu achei Seu Lunga mais adequado a um sujeito de tão maus bofes, vale dizer que ele e eu não temos uma relação das mais amistosas. Contudo o antipático bichano dá-me uma sugestão de tema no mínimo oportuna para o momento: ratos.
Na máquina de som do boteco da esquina o finado Raul berra que “a solução é alugar o Brasil”, Zé Geraldo opinou que “a solução é educar o Brasil”, ocorre-me de repente que a solução é desratizar o Brasil. Ouvi de um jornalista esta semana em sua crônica sobre o cômico incidente dos ratos no plenário da CPI da Petrobrás que os ratos têm 94% dos genes humanos, daí ser o bichinho o mais utilizado para testes de laboratório. Traduzindo: a criatura mais se parece com o homem, (e com a mulher, é claro) não é o chimpanzé, (Que todo mundo gostaria que fosse), mas, acreditem, o RATO.
Fui pensar a respeito e... Pensei: melhor não pensar! Pensar dói pra caramba! De novo o Raul: “pena eu não ser burro... num sufria tanto.”
Tá! Voltemos ao assunto. Os ratos, pertencentes à ordem dos roedores, apresentam-se sob diversas espécies e são muito importantes para a cadeia alimentar. São seus predadores: os cães, os gatos, as raposas, as corujas, as cobras, as aves de rapina e até mesmo alguns tipos de artrópodes. Mesmo assim a população do bichinho cresce que cresce. Talvez seja a praga que mais se equipara à praga dos corruptos do nosso país. O ratos não se filiam a partidos políticos, mas também vivem em colônias e além de roubarem para seu próprio sustento também causam danos estruturais, como aqueles outros, destruindo plantações e silos de armazenamento de grãos. Calcula-se que no Brasil os ratos destroem 4% da produção de grãos. Bem! Parece-me que o prejuízo à nação causado pelos corruptos é maior do que o causado pelos ratos afinal.
Permita-me uma digressão: Tive um amigo diferente de todos os demais. O Vitor. Considerado de mente limitada, era meu patrão e por isso mesmo meu mestre. Repetia-me ele frequentemente: “Antes que o mal cresça, corte a cabeça.” Pois o Vitor me contou um conto digno de registro: Para ele, roubar para matar a fome não era pecado. Por isso passando um dia pela casa de Camarga, percebeu que a bondosa senhora havia matado um frango e, picado-o nos exatos vinte e dois pedaços, deixado-o na janela dentro de uma cuia. Não titubeou o nosso herói. Apanhou a cuia com o frango e levou para casa. “A fome era braba, sô!” Saciada a fome um terrível incômodo se apoderou do moço: o frango era para matar a fome, mas a cuia certamente faria falta à sua involuntária benfeitora. De novo não pensou duas vezes. Foi devolver o rudimentar utensílio. É claro que Dona Camarga riu muito da inocência do néscio larápio. Dizem que daí surgiu a expressão comum em nossa cidade: “Que cuiada!”
Há um conto medieval do século XIII que expõe a triste situação de cidades européias invadidas pelos ratos que eram atraídos pelos maus hábitos de higiene da população da época. Além dos prejuízos acima citados, a presença dos ratos representava um perigo à saúde pública, uma vez que a Peste Bubônica, doença transmitida pela pulga do rato dizimou milhares de pessoas por toda a Europa. Segundo o conto, Hamelin, no ano de 1282, sofria com uma infestação de ratos, problema que foi resolvido por um flautista que, tocando seu instrumento, encantou os ratos que o seguiram até o Rio Wesser onde se precipitaram nas águas, morrendo afogados.
Que falta faz, em Brasília, um músico desse calibre! Né não?
Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 01/05/2015